segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Córdoba de Novo

Olá pessoal.

Infelizmente este foi o último capítulo da minha viagem. Geralmente os últimos dias de viagem acabam sendo meio melancólicos, e não foi diferente nesta viagem, ainda mais passando mal do ouvido como eu estava.

O Ônibus saiu de Salta a noite, e dei muita sorte pois dormi umas 10 das 12 horas de viagem. Quando acordei no ônibus e faltavam uns 50km para a chegada nem acreditei. Comi o lanche que ganhei no ônibus (sanduíche tipo mixto-frio, um biscoito com recheio de doce de leite verdadeiro "cremoso" e um alfajor) enquanto vencia os últimos kms.

Parei para um café na própria rodoviária para acabar de acordar e conferir nos folders de albergues que coletei por todo o noroeste argentino quais poderiam me servir agora. Enquanto olhava chega um cara e me entrega mais um folder de albergue na cidade.

Pelo menos nesta região da Argentina, o número de albergues é enorme, e os mais ativos acabam indo buscar clientes na rodoviária. Comigo foi assim em Cafayate, Córdoba e em uma das chegadas a Salta também. Somente em Córdoba não fui para o novo local apresentado.


Mesmo com este número enorme de albergues e também de residenciales (acomodações simples ou casas de família), estes estabelecimentos muitas vezes ficam lotados, pois esse modo de viagem é muito usado por aqui. Geralmente onde tem muito gringo os albergues sempre fazem sucesso. Um francês que conheci em Salta disse que não se hospedava em nenhum lugar que custasse mais que cinco ou seis dólares, estava fora do seu orçamento.

Segui caminhando ao albergue que escolhi. Ficava meio longe, mas estava indicado em meu guia, o que não deixa de ser alguma referência. Aliás, este foi um dos albergues lotados da primeira noite de viagem. Ao chegar descobri que os quartos ficam abaixo do solo, exagerando um pouco seria um estilo “bunker” de segunda guerra mundial. Aqueles corredores sem janelas e as portas de ferro, tudo muito impessoal. O banheiro bem pequeno, com o chuveiro molhando tudo quando usado, já que parece ter sido colocado lá depois, sem fazer parte do projeto inicial.

Geralmente os próprios hóspedes é que mantém o albergue em ordem. Claro que alguém contratado dá uma faxina de vez em quando, mas via de regra o povo é que mantém a ordem ou desordem do lugar, enxugando o banheiro, lavando as panelas que sujou, arrumando a própria cama, etc. Claro que a maioria não faz isso direito.


Depois de me acomodar saí para bater perna no centro da cidade e ver sua arquitetura, praças e igrejas. As ruas estavam muito tranquilas, pois era domingo e pouco do comércio estava funcionando. O centro da cidade é plano (possivelmente o resto também), o que facilita percorrer longas distâncias. Depois de umas dez quadras cheguei ao centro. Muitas igrejas antigas e de estilos e épocas completamente diferente se espalham pela cidade.

No hipercentro, próximo a catedral, uma série de peatonais (quarteirões fechados) permitem caminhar de forma muito prazeirosa sob estruturas metálicas usadas como base para plantas trepadeiras que sombreiam todo o caminho. Neste domingo pelo menos, várias destas quadras foram tomadas pelos ambulantes, vendendo bugigangas sobre panos estendidos no chão.

Parei em um café para tomar um suco de laranjas e aproveitar o excelente clima da manhã, e como já se aproximava da hora do almoço decidi provar uma pasta. Pedi um capeletti e recebi três panquecas. Não reclamei, achei até melhor na verdade.

Voltei a praça principal para conhecer a ainda com cara de inacabada catedral de Córdoba. Por dentro não era tão bonita como a igreja de Salta, mas vale uma visita. Na saída, uma espécie de urna para que se deposite moedas para manutenção da igreja. Como não tinha centavos de pesos comigo, deixei a contribuição em reais mesmo.

Fui andando sem rumo pelo centro, com o mapa que ganhei do albergue, e sem querer encontrei um shopping. Tinha a intenção de trazer Alfajores para o Brasil, e como na rodoviária não os encontrei da marca que queria decidi trazer o famoso (e não tão bom) Havana mesmo. Custava aproximadamente o dobro do meu preferido.

Uma coisa fica evidente em Córdoba. Em relação a alimentação, os preços ficam em média o dobro do noroeste argentino. Sanduíches, pizzas, cafés e sucos muito caros. Me sentis roubado e com dó de gastar tamanha diferença de preço. Comprei o lanche da tarde em supermercado. em relação aos serviços (albergue, internet) os preços não haviam mudado tanto.

O espanhol nesta cidade (a segunda maior do país) também já é mais corrido, e acabei não me dando tão bem na comunicação por aqui. O cara da recepção do albergue era o mais desesperado, dava até preguiça de perguntar alguma coisa, apesar de ser um sujeito prestativo.



Como não tinha programa noturno fiquei de papo com um argentino de Tucumán, se chamava Matias, e era um tipo moreno, diferente tanto dos índios do noroeste como da maioria do povo de Córdoba. Conversamos muito antes que ele saísse, e fiquei sabendo de dois aventureiros de Tucumán que partiram de bicicleta com apenas vinte pesos no bolso, sem rumo, e acabaram chegando ao Alaska. Depois de toda esta aventura, um deles ficou morando por lá, se casou, e o outro trabalhou por um tempo e conseguiu uma caminhonete para voltar a Argentina. Um deles escreveu um livro, "Pedaleando América", vou ver se encontro aqui no Brasil.

Fui dormir e deixei o relógio programado para acordar na madrugada. O vôo saia muito cedo e acordei no meio da noite com o despertador. Devo ter acordado o resto da turma do dormitório também, que estava cheio (três beliches). Recuperei meus dez pesos com a devolução das Sábanas (roupa de cama - neste albergue cobravam AR$10 até que se devolvesse as peças). peguei um táxí chamado pela recepção e fui para o aeroporto, com aquele sentimento triste de viagem que acabou.

Na hora do check-in me cobraram uma taxa de embarque (cara) que não fazia a menor idéia que teria de pagar e por pura sorte tinha ainda alguns pesos comigo. Depois desta extorsão me sobraram apenas AR$20,50 pesos. A bebida deliciosa e que não tenho idéia dos ingredientes comprada em Cafayate foi barrada lamentavelmente no aeroporto, teria de pagar para levá-la, e o pior, teria de ir com minha mochila, arriscando se romper ou vazar e comprometer todo o resto da bagagem. Acabei deixando-a por lá (voltei e presenteei um sujeito mais quebrado que trabalhava no aeroporto embalando produtos).

Embarquei e sofri durante as subidas e descidas do avião, pois meu ouvido continuava muito ruim e eu muito gripado. A dor era quase insuportável nas descidas. A conexão em Porto Alegre durou cinco minutos, o outro avião já estava nos esperando e com todos os outros passageiros já embarcados. Uma escala no Rio de Janeiro e estava de volta as montanhas de BH.

Peço desculpas pelo atraso impressionante deste post. Depois vou postar os custos para ajudar quem pretende se aventurar nesta região tão bacana da Argentina.

Beijos e abraços
Thiago rulius