terça-feira, 29 de outubro de 2013

Paris: Montmartre, um bairro de artistas


Basílica do Sacre-Coeur
Montmartre foi, desde muito tempo, um bairro artístico. No fim do século XIX, o bairro era frequentado por vários artistas reconhecidos hoje mundialmente, como Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Degas e muitos outros. Ainda assim, impressiona encontrar a Place du Tertre, principal praça do bairro, lotada de pintores e desenhistas tentando lhe vender um trabalho ou fazer seu retrato (pintura, não confundir com fotografia) ali, no meio da rua. Apesar da praça ficar lotada no meio do dia, é um lugar muito peculiar, autêntico e interessantíssimo para quem tem algum interesse por arte. Eu queria voltar com um retrato para casa, e não perdi a chance. Mas, caso você queira fazer o mesmo, não vá contratando qualquer um dos desenhistas. Observe-os trabalhando e escolha aquele que lhe agradar em estilo e que tenha técnica suficiente para fazer um desenho onde você se reconheça, o que nem sempre ocorre. Mas lembre-se que o desenho não é fotografia, e que parte do trabalho que você vai levar para casa é a forma de expressão do artista. O preço parte de oito e pode ultrapassar cinquenta euros. De todas as quinquilharias que trouxe de minha viagem, o retrato feito em Montmartre foi o mais bacana.

Posando para um retrato.
Os artistas da Place du Tertre

Lanchinho de rua em Montmartre.

Além da Place du Tertre, Montmartre tem a segunda igreja mais visitada de Paris, a Sacre-Coeur, belissíma por dentro mas principalmente por fora, com suas cúpulas podendo ser vistas a certa distância, já que Montmartre fica na única colina de Paris e está em nível acima do resto da cidade. Da frente a igreja é possível ter uma vista panorâmica da cidade nos dias que o tempo está aberto. Após visitar a igreja, você pode descansar um pouco nos gramados e escadaria logo em frente ou no pequeno parque meio escondido atrás da igreja, um bom lugar para fazer um lanche (que você deve comprar no meio do movimento do bairro ou levar do supermercado) e aproveitar para tirar boas fotos da igreja.

Rua Lepic: Galerias, moinhos e cafés.
Mas não restrinja o passeio apenas ao lado tumultuado do bairro. Caminhar um pouco pela área menos turística pode ser muito bom para sentir a atmosfera do lugar. Uma opção é começar o passeio pela rua Lepic, onde Van Gogh morou. Depois da confusão das primeiras quadras, a cara da rua vai mudando. Os turistas ficam mais escassos e o passeio fica bem sossegado. Após o primeiro morro, esta rua faz algo como um "U" afastando-se e depois voltando para o lado mais turístico do bairro. Antes de voltar ao amontoado de turistas, porém, você passará por dois moinhos de vento (sendo um deles o moinho onde funcionava o baile do moinho de la galette, imortalizado em uma tela de Renoir), alguns cafés e restaurantes intercalados com pequenos ateliês e galerias de arte muito interessantes. Me chamou a atenção o ateliê de um artista português que faz retratos compostos exclusivamente de coisas como corpos, legumes, livros, etc. Ao lado, você vê um ateliê onde o artista só pinta gatos. Para quem quer levar algo bem original para casa, vale a pena dar uma olhada.

As duas princiais igrejas de Montmartre, lado a lado.

Para quem quer ainda conhecer algum museu no bairro, existem várias opções nas redondezes, como o Museu de Montmartre (www.museedemontmartre.fr), Dali espace Montmartre (www.daliparis.com) e Museu de la vie Romantique (www.vie-romantique.paris.fr). Este último em Pigalle, bairro vizinho, mas com visita grátis ao acervo permanente.

Sacre-Coeur a partir do bairro Pigalle
Ainda em Pigalle, próximo a esta estação de metrô estava ocorrendo uma feira de antiguidades (domingo). Uma opção legal para complementar o passeio. A extremidade da feira se localizava na rue des Martyrs.

Por último, Montmartre está lotada de lojinhas de souvenir. Se você quer trazer miudezas para um monte de gente, reserve um tempo para as compras que lá é o lugar.




Cuidado com os espertalhões

Assim como as mocinhas (mudas?) que te cercam na região do Louvre pedindo dinheiro ou os vendedores de chaveiros de Torre Eiffel de Versailles e toda Paris, em Montmartre também tem um punhado de espertalhões na base das escadarias de acesso a basílica do Sacre-Coeur, que já chegam tentando lhe empurrar uma pulseira, uma lembrança, etc. Não tivemos nenhum problema, mas ouvimos relatos de tentativas de furtos ou extorsão. Então, para evitar esse tipo de situação, se lhe oferecerem qualquer coisa, agradeça com um mercy e um sorriso e siga em frente. Se insistirem, continue dizendo mercy e pule fora. Desde que você não tenha demonstrado interesse pelo que estão vendendo, eles desistem em um instante.

Como chegar

A melhor estação de metrô é a Absesses (lhe deixa no meio da colina), mas a estação Pigalle também atende, apenas será necessário subir um pouco mais. Como o bairro é extremamente turístico, recomendo chegar cedo. Mas se não conseguir, não desanime ao ver os ônibus de excursão desovando turistas as dezenas por ali. Essa chegada em massa de pessoas, junto as lojas de souvenires e artigos baratos espalhadas por todo lado, além dos edifícios nem sempre bem conervados podem dar uma primeira impressão ruim, mas insista. Encare as ladeiras de pedra calçada com disposição, pois Montmartre merece.

Bom passeio.
Thiago Rulius.

domingo, 20 de outubro de 2013

Versailles

Palácio de Versailles e parte de seu jardim
 
Ninguém me falou, mas acho impossível que outra atração nos arredores de Paris seja mais visitada que Versailles. Certamente não pela cidade, que existe a sombra do seu glorioso palácio, este sim o centro das atenções.

Assim que chegamos lá, após um curto trajeto de trem (que nem dá para chamar de viagem), chamou atenção a quantidade de turistas se aglomerando a frente do castelo. Mesmo assim, tinha uma ótima expectativa, especialmente depois de conhecer o palácio do Catete e seu jardim no Rio de Janeiro. As proporções são completamente diferentes, mas o nosso palácio merece, e muito, uma visita. Claro que Versailles vai muito além do Catete. Apenas o trecho do palácio que visitamos, que imagino não seja 20% do seu tamanho total, já deve ser maior que o palácio brasileiro.

Logo na entrada, uma longa fila, que pudemos pular por já ter comprado os ingressos anteriormente, no guichê de informações turísticas que fica entre a estação de trem e o castelo, vendido com uma sobretaxa de dois euros.

Adornos do palácio




Lá dentro, o “caminho feliz” é visitar o palácio em primeiro lugar (até mesmo porque seu horário de visitas é encerrado antes do jardim). Foi o que fizemos. Pegamos os audioguias (grátis, ou com preço embutido no valor de entrada) e começamos a explorar os aposentos do palácio.

Quarto da rainha Maria Antonieta
Apesar de termos seguido para lá em uma quinta-feira, dia que não é dos mais batidos e que supostamente o lugar não está tão cheio, parecia não caber mais ninguém ali. Mesmo com toda a beleza do castelo, fica bastante difícil, para não dizer impossível, sentir a sua atmosfera.  A todo momento passavam aquelas excursões onde o guia vai a frente levando sua varinha com uma fitinha colorida a ponta, seguida por um grupo de turistas com os dedinhos nervosos, disparando fotos de qualquer coisa que apareça a sua frente. Cheguei a ver uma turista, após ouvir a explicação do seu guia, apenas levantar o braço com a máquina fotográfica para disparar a foto de um aposento que ela sequer entrou e nem conseguia ver o que tinha, já que era baixinha e tinha dezenas de pessoas a sua frente.

Mas mesmo com todo o antoclímax do lugar, existem aposentos extremamente interessantes, como os quartos do rei e da rainha, e as salas para realizar cada uma das suas obrigações: a sala onde o rei recebia seus súditos, a sala onde jantavam (com um espaço com várias cadeiras, estilo sala de aula, para que alguns bajuladores pudessem vê-los jantar), o quarto da rainha com sua passagem secreta (usada por Maria Antonieta para tentar escapar da guilhotina, o que não adiantou), entre outros. A sala dos espelhos também é muito bonita e enorme, neste cômodo deu para imaginar como seria um baile naqueles tempos (comece retirando a metade dos turistas e imagine os demais com roupas de época que já é um começo).

A famosa sala dos espelhos de Versailles
 
No mais, repare os papéis ou forros de paredes, pinturas, esculturas e móveis de época espalhados pelos aposentos (mesmo que parte da mobília não seja original, já que muitas peças sumiram ou foram destruídas durante a revolução francesa). Para quem repara nos detalhes, é uma festa. E não deixe de pegar seu audioguia, que enriquece bastante a visita.

Panorâmica do jardim de Versailles

Quanto aos jardins, estes são maravilhosos. Na região mais próxima ao palácio, estão os jardins mais contemplativos e tradicionais, com canteiros de flores, caminhos e árvores com efeitos de topiaria. Mais afastados, o grande lago (que se vê do palácio) onde se pode alugar barcos e remar por ali, além dos bosques e das outras atrações (Grand Trianon, Petit Trianon e Domínio de Maria Antonieta). Não visitei estes outros atrativos, que são pagos a parte, e apesar de não tê-los conhecido, posso afirmar que, se você quer conhecer com calma os jardins de Versailles, só compre o ingresso full (que dá acesso a estas atrações) se tiver chegado cedo, pois do contrário vai faltar tempo para conhecer tudo. O lugar é enorme.

Vista do castelo a partir de seu jardim


Para quem não quer (ou não pode) andar demais, é possível alugar um carrinho, mas o preço é alto (trinta euros, se não me engano).

Minha opinião é que o lugar vale a visita, especialmente o jardim, que por ser tão grande, não se nota a quantidade de turistas. No caso do palácio, não posso negar que é muito bonito, mas gostaria de ter conhecido outros (como Fontainebleau) que também são turísticos, mas muito menos visitados que Versailles, para fazer um comparativo. A quantidade de gente dentro do castelo reduz o prazer da visita. Acreditem ou não, e podem me chamar de doido, mas meu prazer em conhecer o sossegado palácio do Catete foi maior (mas não estou dizendo que seja mais bonito, não confundam).

Uma bela galeria do palácio

Outras informações

Como chegar: Pegue o trem RER C5 na estação Invalides de metrô (compre o ticket nas máquinas automáticas, opção Ile de France). Compre o bilhete de volta ainda em Paris ou assim que chegar, pois no horário de partida a estação vira um inferno, com filas enormes para comprar a passagem. Ao descer da estação, basta andar algumas poucas centenas de metros (é bem perto). Siga para a direita e depois esquerda, ou siga o fluxo de pessoas.

Preços
  • 15 euros para palácio e jardins (17 com sobretaxa do escritório de turismo).
  • Para o passaporte (acesso também ao Grand Trianon, Petit Trianon e Dominios de Maria Antonieta, o preço varia de acordo com o dia da semana, indo de 19,50 a 26,50.
OBS: As livrarias FNAC vendem ingressos para vários museus e outros atrativos turísticos de Paris. É possível que vendam entradas para Versailles também. Estude esta possibilidade para todas as atrações mais concorridas. Mesmo pagando um pequeno acréscimo, a economia de tempo pode significar a visita a mais uma atração no mesmo dia.

Abraços
Thiago Rulius

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Auvers-sur-Oise

A igreja de Auvers

A pequena cidade de Auvers-sur-Oise tinha tudo para ser desconhecida de todos, a exceção de seus cerca de seis mil habitantes. Deve ter sido assim até o fim do século XIX, quando a cidade passou a abrigar pintores franceses que depois seriam reconhecidos no mundo artístico, como Charles Daubigny, Camile Pissarro e Paul Cezanne. Não bastassem estes nomes, a cidade ganhou até mesmo certa notoriedade por ter abrigado o pintor Vincent Van Gogh em seus últimos dias de vida.

Estátua de Van Gogh
Van Gogh chegou a Auvers após deixar o hospício próximo a Saint-Remy, no sul da França. Na nova cidade, poderia ser atendido pelo médico Paul Gachet, residente em Auvers e que havia tratado anteriormente de Pissarro (que o indicou ao irmão de Van Gogh, Théo) e Cezanne. Gachet também era pintor amador e colecionador de arte, o que criaria um vínculo maior entre paciente e médico. Além do mais, vivendo ali, Van Gogh estava bastante próximo de seu irmão Théo, que poderia socorrer em caso de necessidade.

Hoje o turismo em Auvers-sur-Oise gira basicamente em torno de Van Gogh e dos outros pintores que viveram na cidade. Mas nem só por isso ela merece uma visita, pois qualquer turista que vá ficar exclusivamente em Paris pode encontrar ali uma pequena prova da vida em uma pequena cidade da França, com suas casas centenárias e canteiros floridos.

Canteiro de flores em Auvers
Apesar de muito perto de Paris (cerca de 35km), Auvers tem uma avenida principal relativamente movimentada e demais ruas completamente sossegadas. É uma cidade gostosa para uma caminhada descompromissada, com suas casas antigas de pedra e paisagens seculares. Um detalhe interessante do passeio em Auvers é que várias das paisagens da cidade foram pintadas pelos artistas citados acima. Quando o local ainda existe, é possível ver uma placa no local aproximado onde a obra teria sido realizada, e nesta placa está uma reprodução da pintura, para comparação com a paisagem original. Caso queira fazer um passeio buscando estas placas, basta comprar um mapa (por 1 euro) no balcão de informações turísticas da cidade, com a localização de cada uma destas pinturas.

O castelo de Auvers
Auberge Ravoux, hoje Maison Van Gogh
Mas a cidade é especialmente interessante para os fãs de Van Gogh (meu caso): É possível visitar a igreja de Auvers, pintada por ele e que atrai pintores que montam ali seus cavaletes para fazer novas versões e interpretações do local. Está aberta para visitação a pequena pensão onde ele morou (hoje Maison Van Gogh), assim como os tumulos dos Irmãos Théo e Vincent Van Gogh no cemitério da cidade. No parque Van Gogh há uma estátua feita pelo escultor Zadkine, na avenida principal, e ainda é possível visitar a casa do doutor Gachet. Tive a oportunidade de visitar o castelo, a igreja e o cemitério apenas (era terça feira e descobri apenas na cidade que as demais atrações funcionavam apenas de quarta a domingo). Ainda assim, foi uma viagem emocionante e bastante comovente para mim, que sou um fã do pintor. Gostaria de ter montado ali um cavalete e passado toda a tarde pintando a famosa igreja, ou pelo menos ter um pouco mais de tempo para fazer um esboço a lápis.

Rua em Auvers
De qualquer maneira, seja você um fã de pintura ou não, a cidade de Auvers tem um certo charme e considero uma visita interessante, e pode ser feita como day trip a partir de Paris numa boa. Para chegar lá, vá até a gare (estação) St. Lazare e compre um bilhete para Auvers-sur-Oise. O trem o levará até Pontoise, onde deve ser feita uma baldeação para Auvers, sem necessidade de comprar novo bilhete. Existe um trem direto da Gare du Nord, porém este não é diário, então será necessário verificar que dias ele segue para lá caso queira usar esta opção. Ao chegar em Auvers, já compre a passagem de volta, pois a bilheteria fecha cedo e a passagem serve para qualquer viagem no dia.

Tumulos dos irmãos Van Gogh - Tragédia em familia

Para quem quer levar uma lembrança, a banca de informações turísticas vende souvenirs relacionados a Van Gogh, como posters, canecas, canetas e outros. Alguns deles importados inclusive do museu Van Gogh, em Amsterdam.


Outras atrações da cidade são a casa e o atelier de Daubigny, que também estavam fechados na terça-feira, e o castelo de Auvers.



Abraços.
Thiago Rulius.