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Um dos canais de Amsterdam. Caminhar na cidade é puro prazer. |
Chegamos a Amsterdam pela Centraal Station, a estação ferroviária da cidade. Tão grande e cheia quanto as estações (gare) de Paris, o que não era para se entusiasmar. Do lado de fora, uma certa confusão nos pontos de tram, que são os bondes responsáveis por levar e trazer todo mundo aquela estação que possivelmente é a mais importante da Holanda.
Apesar de sempre fazer um planejamento da viagem, não sabia qual tram devia pegar para chegar ao hotel. O quiosque de informações turísticas estava fechado, funcionava apenas uma máquina onde era possível comprar um mapa da cidade por um euro (o mapa é bom). Compramos na tentavida de descobrir nele qual era o nosso bonde. Enquanto tentava olhar o mapa no meio de uma ventania ferrada e já pensava em pegar um táxi, vimos um escritório da companhia que administra os trams e fomos até lá. Conseguimos então descobrir que o nosso tram era o número 25, onde deveríamos pegá-lo, e onde descer.
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Sarphatipark, no bairro Pijp. Pequeno, bonito e fora da rota turística. |
Foi só embarcar e tudo mudou. O tram estava muito tranquilo, e assim que percorreu umas poucas centenas de metros, a cara do lugar mudou. Ali mesmo, antes de desembarcar, já notamos a diferença no ritmo da cidade em relação a Paris. As ruas bem mais tranquilas, e as bicicletas mostrando muito claramente qual era o principal meio de transporte na cidade. Desembarcamos em frente ao Sarphatipark no bairro Pijp e caminhamos uma pequena distância até o nosso hotel, simples mas aconchegante.
Após deixar as malas no hotel, apenas fizemos um curto passeio no Sarphatipark e logo a noite chegou (havíamos deixado Paris no início da tarde). Fomos até a esquina comer em uma pizzaria. Nos chamou a atenção o atendimento extremamente cordial dos holandeses, muito diferente das caras amarradas em Paris. Entramos no clima jovial daquele bar/pizzaria/pub, tomamos alguns chopps e finalmente comemos uma pizza. Detalhe: Quando pedimos um prato para dividir a pizza, estranharam. Lá, cada cliente pedia uma pizza inteira. Ficamos impressionados, a pizza devia ter cerca de 35cm de diâmetro! Comemos e fomos dormir, com uma grande expectativa para os dias seguintes. Amsterdam tinha nos deixado a melhor das impressões.
As atrações do bairro Pijp
No dia seguinte, primeiro dia inteiro em Amsterdam, queríamos descansar das correrias de Paris. Agora com café da manhã incluso na diária do hotel, acordamos mais tarde, comemos e fomos correr no Sarphatipark, a cerca de duzentos metros do nosso hotel. É um parque muito bonito apesar de pequeno (ocupa uma quadra grande). O parque é muito sossegado, pois de vários pontos não se vê a rua, e como o trânsito em Amsterdam é muito tranquilo, normalmente também não se ouvem os "barulhos da cidade" com muita frequência. É um parque com árvores frondosas, lago, chafariz e ampla área gramada, cortada por trilhas de cascalho com banquinhos pintados de verde espalhados por estes caminhos. O parque é muito bonito e nos atendeu muito bem na nossa corrida matinal, pois possui também uma espécie de academia a céu aberto onde pudemos fazer alguns alongamentos. O parque estava muito tranquilo, pois além do horário e da temperatura, não é um local que está na rota turística.
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Peixes frescos na Albert Cuypmarkt |
Após voltar ao hotel para um banho, saímos para conhecer a Albert Cuypmarkt, uma grande feira livre do bairro de Pijp, e até onde sei a maior feira de Amsterdam. Gosto muito de visitar as feira dos países que estou visitando, é sempre uma grande oportunidade de ver um pouco da cultura local, e na Albert Cuypmarkt não foi diferente.
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Flores na Albert Cuypmarkt |
É uma feira sem temática definida, pois vende de tudo: Frutas e legumes, peixes frescos, castanhas, ervas, roupas, malas, acessórios para bicicletas, bijouterias, sucos, queijos, carteiras e bolsas, flores, entre outros. Pensando apenas nas compras, é uma feira muito mais voltada para os locais, mas pode ser interessante para o turista que quer comprar roupas baratas, comida e miudezas. Acabei comprando camisa e calça "exóticas", além de algumas cuecas, que eram de ótima qualidade e muito baratas (5 cuecas por E$10). Com isso resolvi o problema de "reciclagem das cuecas" que estava para começar.
Também fizemos uma boquinha por lá. Tomamos suco natural por E$1,50 o copo. Uma caixa grande de morangos custou E$2. Assim como no Brasil, os de cima eram maravilhosos e os do fundo estavam estragados. Como almoço compramos bandeijas de papel com contra-asa de frango, ou coxinha da asa, como dizem alguns. Uma bandeija com 5 unidades custava E$2,50. Uma delícia. Gostamos muito da feira, a vontade de levar queijos para o hotel era enorme, mas assim como em Paris não tinhamos frigobar no quarto, e acabamos postergando a compra. Recomendo a feira para quem tem bastante tempo na cidade, mas não é algo que se possa chamar de atração turística.
No fim da tarde, fomos caminhar a beira do canal que marca o fim do bairro Pijp, onde estávamos hospedados. Caminhamos pela Ruysdaelkade, sem destino definido, apenas relaxando. Como nestas caminhadas sem rumo muitas vezes descobrimos um cantinho bacana da cidade, acabamos encontrando a pequena galeria de arte Tiller Galerie e depois, surpreendentemente, encontramos algumas das famosas vitrines com as famosas "moças bondosas" se exibindo para aqueles que passavam por ali apenas de roupa íntima. Algumas mandando beijinho, outras lixando as unhas ou lendo uma revista, despreocupadas. Minha esposa encarava com uma certa desconfiança o meu interesse em conhecer estas vitrines, e este encontro casual serviu para que ela visse como era interessante esta peculiaridade do país. Ficamos os dois olhando com interesse aquelas vitrines convivendo ao lado de outros comércios mais tradicionais, e também as profissionais que se exibiam ali. Acho que para quem quer conhecer estas cabines por dentro, este cantinho do bairro Pijp pode ser uma opção legal para fazer isso com mais discrição. E para quem tem namoradas que não querem conhecer o bairro da luz vermelha, uma passadinha sem querer por esta parte da cidade pode fazer milagres.
Museumplein
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Fim de tarde na Museumplein |
Era dia de começar a conhecer a Museumplein, espécie de praça onde se concentram os maiores museus de Amsterdam. Como não fica muito longe do Pijp e o dia estava ensolarado, seguimos caminhando para lá.
Dos três museus da Museumplein, o mais famoso no Brasil sem dúvida é o museu Van Gogh, mas ainda estão por lá o Rijksmuseum, que cobre a arte dos países baixos desde a idade média com mais de oito mil trabalhos expostos em oitenta salas, e o Stedelijk museum, voltado para arte moderna e contemporânea.
Antes de conhecer os museus, é importante dizer que aqueles turistas que tem a intenção de conhecer muitos museus na cidade devem considerar a compra do Museumkaart, um cartão que permite passe livre a dezenas de museus em toda a Holanda no período de um ano. Mas basta visitar meia duzia de museus que aceitam o Museumkaart e o dinheiro investido (E$54,90) será recuperado. Outra informação importante é que o Museumkaart permite furar a fila e entrar diretamente em alguns museus, como é o caso no museu Van Gogh, e isso se reflete em economia de tempo, o que pode garantir a visita a uma outra atração na cidade, ou passar mais uma hora caminhando a beira de um canal (ou andando dentro de um deles de pedalinho, quem sabe).
Rijksmuseum
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Rijksmuseum a partir da Museumplein |
Em nosso primeiro dia de Museumplein conhecemos o Rijksmuseum, que é como se fosse o Louvre da Holanda. Apesar de ser enorme e impossível de se conhecer inteiro em um único dia, ainda assim é menor e mais aconchegante que o Louvre. Ainda assim, decidimos adotar a mesma estratégia usada nos museus visitados na França: conhecer o que era de nosso maior interesse e ignorar o resto. Passamos no guichê de informações e pegamos um guia de visitação em português antes de seguir em frente.
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Rijksmuseum. Imperdível para quem gosta de arte. |
A coleção do Rijksmuseum é variada e certamente interessará a todo tipo de público. Não será difícil encontrar o setor escolhido para visitação, pois as coleções são divididas de maneira cronológica, com exceção das interessantissímas coleções especiais, que estão todas concentradas no térreo (piso zero). Fazem parte desta coleção várias maquetes de navios maravilhosas, além de armas e armaduras, jóias, roupas de época, instrumentos musicais e as famosas porcelanas de Delft.
No piso dois, a chamada galeria de honra também é imperdível. Nela se concentram as principais obras primas da pintura holandesa de todos os tempos, incluindo pinturas de Rembrandt, Vermeer, Hals, Ruysdael e outros. Ao fim da galeria, alguns dos mais importantes quadros de milícia já pintados, incluindo a Ronda Noturna, de Rembrandt. É um setor que você se sente perdido, sem saber para onde olhar no meio de tantas obras primas.
Metade do piso um apresenta as obras do século XIX, com coleções belíssimas da chamada escola de Haia, com suas paisagens em sua maioria escuras mas muito belas, e alguns poucos quadros de Van Gogh, que domina o museu Van Gogh, logo ao lado.
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Café do Rijksmuseum. Essencial para passar o dia todo por lá. |
Diria que quase todo o museu merece ser visitado. Considero de menor interesse apenas o piso três, onde estão as obras a partir do ano de 1900. Estas, no meu ponto de vista, não se comparam as obras expostas nos pisos inferiores.
Porém, para conhecer tudo pode ser necessário mais de um dia, o que pode não ser possível para quem não tem muito tempo na cidade.
O museu tem uma ótima loja no térreo, com livros, posteres e souvenires variados além de café. Chegue cedo e ao sair, se der tempo, descanse e tome um pouco de sol na Museumplein ou no Vondelpark.
Museu Van Gogh
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Amendoeiras em flor. Pintado para o filho de seu irmão Théo. |
No dia planejado para conhecer Zaanse Schans o dia amanheceu muito nublado e decidimos adiantar a visita ao museu Van Gogh. Não chegamos muito cedo ao museu e pela primeira vez na Holanda encontramos uma fila realmente grande. Nossa alegria é que havíamos comprado o Museumkaart em nossa visita ao Rijksmuseum, e com ele pudemos não só entrar sem pagar, mas entrando diretamente sem sequer enfrentar a fila! Deixamos nossas coisas no guarda-volumes e em poucos minutos já estávamos vivendo a experiência de conhecer boa parte da obra deste grande artista que só foi reconhecido após sua morte.
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Telas de Van Gogh. Explosão de cores. |
O acervo é muito grande e cobre todas as fases da carreira de Van Gogh. As pinturas mais escuras da fase holandesa, as pinturas acadêmicas da Antuérpia, a mudança no contato com os impressionistas e pós-impressionistas em Paris e a explosão de cores em Arles, Saint-Remy e Auvers-sur-Oise. Várias obras primas do artista estão expostas no museu como Os comedores de batatas, Íris, Amendoeiras em flor e um dos quadros de girassóis. Outros pintores que tiveram contato mais próximo com Van Gogh tem obras em seu acervo, como Paul Gauguin, Émile Bernard, John Peter Russel (que pintou um belissímo retrato de Van Gogh), entre outros. Também compõem o acervo do museu as cartas de Van Gogh a seu irmão Théo e amigos. Algumas estão expostas e são interessantes por mostrar esboços de desenhos maiores ou pinturas.
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Um dos desenhos de Van Gogh |
A coleção de desenhos tem um setor exclusivo e mostram a evolução técnica do artista. Ainda é possível ver um pouco do trabalho de restauração e conservação das obras pelo museu, e no subsolo é exibido um vídeo de aproximados vinte minutos sobre o artista. Também no subsolo funciona a livraria do museu, com algumas (poucas) opções de livros em Português. A loja com centenas de quinquilharias fascinantes fica próxima a saída. Os rendimentos da livraria e loja são utilizados para compra de novas obras para compor o acervo do museu (segundo informações divulgadas por eles).
Acho que uma medida que devia ser tomada por todos os grandes museus do Brasil era abrir lojas como as que encontramos nos museus de Paris e Amsterdam. Impressionante como vendem produtos tão variados e super disputados pelos visitantes. Gostaria de ver lojas como estas no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, por exemplo, que tem telas simplesmente espetaculares e nao exploram este potencial.
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Retrato do pintor por John Peter Russell |
Outro exemplo: nestes museus eles vendem cópias das telas mais atrativas por cerca de E$13. No nosso museu Inimá de Paula, em BH, temos apenas uma unica opção de gravura (serigrafia), e o pior: ao custo de R$300 a cópia.
Vondelpark
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Fim de tarde no Vondelpark |
Saindo do museu Van Gogh, comemos um sanduíche na Museumplein, que também tem lojinha de camisetas alternativas e uma loja de souvenires ligados aos museus. Depois de cinco horas no museu Van Gogh, já era fim de tarde, mas como o tempo havia melhorado fomos conhecer o Vondelpark, que fica perto dali.
O Vondelpark tem uma beleza parecida com o do nosso pequeno vizinho Sarphatipark, mas com muito mais cenários, já que deve ser umas dez vezes maior. Claro, por ser um parque que oferece mais, estava bem mais cheio. De qualquer jeito, é um parque lindo e que merecia ao menos uma tarde inteira, com um piquenique incluído. Caminhamos por boa parte do parque e sentamos em um gramado aproveitando os últimos minutos de sol antes de encerrar o dia.
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Vondelpark, merecidamente o mais famoso parque de Amsterdam |
Em breve: próximos posts de Amsterdam com bairro da luz vermelha, outros museus, e a vila-cenário de Zaanse Schans.
Abraços
Thiago Rulius